Quando nos tornamos pais e mães passamos a ter uma grande responsabilidade na vida, a maior e mais importante de todas elas, que é o cuidado, a criação e a educação de nosso filho, ou filhos.
Essa importante tarefa de educar nunca foi muito fácil, mas nas famílias de antigamente havia uma “rede de apoio”, ou seja, todos os membros daquela família, que era numerosa, participavam da educação daqueles que estavam chegando.
Famílias numerosas eram comuns e não se atribuía à escola a responsabilidade de educar para a convivência.
Hoje, apesar do maior acesso às informações e ao conhecimento trazidos pela internet e pelas tecnologias, vemos muitos pais perdidos, confusos, cansados, sem saber a melhor maneira de educar seu filho para um futuro que é tão incerto.
Sabemos que é importante uma fundamentação sólida para que nossas ações sejam seguras, e para que entre acertos e erros consigamos resultados duradouros na formação de nossos filhos.
Por isso busquei aprofundar o assunto trazido na live da nossa diretora maria Helena, organizando e resumindo alguns fundamentos que chamarei de “pilares”, que acredito ser fundamentais para a formação das crianças hoje, e que as levarão a desenvolver competências essenciais para que elas possam ter uma vida saudável, alcançar o sucesso de acordo com seus projetos de vida, e para que possam, na maior parte de suas vidas, serem felizes.
Esses fundamentos são trabalhados na escola (ou deveriam ser) uma vez que ela é hoje responsável também pela formação integral do aluno, com a diferença de que na instituição escolar elas serão voltadas para o âmbito público e em casa eles serão trabalhados no âmbito privado.
Hoje trago os fundamentos, que dialogam entre si, e todos possuem como base a autonomia.
Autonomia, segundo Piaget, é a “capacidade de decidir entre o certo e o errado, na esfera moral, e entre o verdadeiro e o falso, na esfera intelectual”, independentemente de haver recompensa ou punição.

Seriam os pilares, então:

Educar para as frustrações;

É unanimidade entre os especialistas a recomendação de que as crianças precisam aprender a lidar com as frustrações.

Cair e se levantar, brigar com algum colega, não ganhar algo que queira muito, são situações que toda criança irá vivenciara no dia a dia.

Não permitir que o filho sinta medo, raiva, tristeza, não é possível e nem saudável.

A superproteção impede o desenvolvimento da autonomia pois a criança não vivencia experiências, não aprende a lidar com decisões ou situações sociais importantes para seu desenvolvimento e para o desenvolvimento da resiliência, que é a capacidade de lidar com os vieses da vida e seguir adiante.

O fato dos pais hoje trabalharem grande parte do tempo podem levá-los também a atos compensatórios, o que também é muito prejudicial pois quando adultos não temos tudo que queremos na hora que queremos.

As crianças precisam passar por momentos de frustração, e cabe a nós dar apoio, mas não precisamos resolver as coisas por elas ou superprotegê-las para que elas não sintam medo ou tristeza.

Na escola, por exemplo, as crianças se deparam com situações constantes de frustração, uma vez que a aprendizagem é um ato que exige resiliência.  Existe até um livro intitulado, “Aprender, a aventura de suportar o equívoco”, da autora Clemencia Baraldi.

Precisamos acreditar na capacidade deles de fazerem as coisas sozinhas, de resolverem seus problemas e de lidarem com as dificuldades. Tentar evitar que nossos filhos sofram irá torná-los despreparados para a vida.

Educar para as escolhas:

Saber decidir, optar e lidar com as consequências das escolhas é uma habilidade que precisa ser desenvolvida, e quanto antes damos a oportunidade para que as crianças tenham liberdade para fazer opções, de acordo com as possibilidades da sua faixa etária, mais cedo se dará esse desenvolvimento.

É preciso dar liberdade para que a criança faça escolhas e é importante deixá-los lidar com as consequências positivas ou negativas delas.

E é interessante que as escolhas às vezes deem errado, pois assim a criança poderá exercitar sua flexibilidade emocional, que também é uma competência necessária para uma vida saudável.

Fazer escolhas pressupõe também aceitar perdas, uma vez que, quando é preciso optar por alguma coisa é preciso também renunciar a outra.

Precisamos entender que a infância e a adolescência são fases propícias para o erro e para as “más escolhas”. Crianças e adolescentes ainda têm a proteção dos pais e dos adultos, e seus erros não terão ainda um impacto profundo em suas vidas. Obviamente que falamos de escolha que não colocarão em risco sua saúde e integridade física. Nesses casos não haverá escolha e as decisões do adulto são inegociáveis.

Educar para o diálogo:

De acordo com diversas pesquisas internacionais, sabe-se que adultos empáticos são mais felizes e bem-sucedidos.

Para haver empatia é preciso diálogo.

Saber ouvir e se descentrar, colocando-se no lugar do outro, é uma competência que as crianças não apresentam ainda cedo, apesar do ser humano nascer com a predisposição para a empatia.

Durante a infância, até mais ou menos os 06/07 anos de idade, as crianças encontram-se na fase de desenvolvimento da autonomia moral chamada por Piaget de heteronomia.  Nessa fase é normal a criança ser egocêntrica, vendo os acontecimentos apenas sob sua perspectiva. Para que ela aprenda a enxergar outros pontos de vista é necessário que ela interaja com diferentes ideias, para que ela possa ouvir e ser ouvida. A partir dos 08 anos aproximadamente, a criança já passa apresentar a capacidade de descentrar, e de compreender e internalizar as regras de convívio, por exemplo. Elas já conseguem cooperar, ou, operar junto. 

Na escola, situações de conflitos são uma excelente oportunidade para que possamos trabalhar o diálogo com as crianças, para que elas possam ouvir diferentes pontos de vistas e opiniões, para que elas possam se colocar no lugar do coleguinha, para que elas entendam os sentimentos alheios, para que elas aprendam a expor suas ideias, sentimentos e emoções. E por estarem entre pares esse diálogo acontece de forma não coercitiva.

Em casa, apesar de não estar em pé de igualdade com os pais, é importante que a criança sinta que tem espaço para o diálogo. É interessante utilizar também os momentos de conflitos em casa, para que a criança seja estimulada a fazer reflexões sobre o que está sentindo, e como poderia diminuir ou evitar seu sentimento de frustração. E para isso é preciso que os pais ouçam, sem julgamentos, as queixas, dúvidas e sentimentos dos filhos. Saber suportar o sentimento de tristeza dos nossos filhos é um verdadeiro ato de amor e cuidado. Nesse momento também, é importante, como mostrar à criança que ela não é única no mundo, e como a convivência é importante.

Embora situações de conflito possam desencadear emoções negativas e estressantes, são elas que irão ensinar nossos filhos a desenvolver a empatia, a argumentação e o diálogo.

Educar para a aprendizagem:

Vamos fazer uma reflexão: quem de nós gosta de errar? Acredito que a grande maioria dirá que não!

Aprendemos em nossa escola, aquela antiga e tradicional, que o erro deveria ser evitado, não havendo muito espaço para que ele acontecesse.

Mas refletindo agora eu pergunto: o quanto já não tivemos que errar, na escola e na vida, para chegar aonde estamos hoje?

Em um mundo VUCA será imprescindível a capacidade de aprender!

Segundo o renomado autor e futurista Alvin Toffler, o analfabeto do século XXI não será quele que não sabe ler e escrever, mas aquele que não consegue aprender, desaprender e reaprender.

O processo de aprender resulta da interação entre nossas estruturas mentais e o meio em que vivemos, ou seja, aprendemos a todo o momento, querendo ou não…, mas uma postura aberta ao aprendizado é o que garantirá se a criança será um adulto realizador.

Além disso, a postura dos pais diante da aprendizagem dos filhos irá moldar a forma como essa criança irá lidar futuramente com a aprendizagem.

Ficamos tão focados no resultado que não observamos o quão importante é o processo. E somente aqueles que dão valor para o processo aprendem a ser curiosos, a gostar do novo, da experimentação e, por que não, do erro.

Devemos cuidar para que não nos tornemos muito exigentes quanto aos resultados que nossos filhos nos apresentarão, sem levar em consideração o esforço empregado, a responsabilidade, a valorização do aprender.

Devemos cuidar também dos elogios. Quando nossos elogios são valorativos, eles avaliam traços de caráter a contém julgamentos, e não ajudam na formação da identidade pessoal do indivíduo. No livro, Mindset: A nova psicologia do sucesso, escrito por Carol Dwek, a autora sugere, após estudos realizados, que crianças que recebem apenas elogios valorativos (“como você é inteligente!” Como você é bom menino!”) tem menor predisposição a aceitar desafios, por exemplo, por receio de errar e/ou desapontar os adultos.

Já as crianças que recebem elogios descritivos, ou apreciativos (“Parabéns pelo seu esforço!”, “Gostei que você cuidou do seu material”), mesmo que o resultado às vezes não saia como o esperado, levam as crianças a desenvolverem uma autoestima baseada em suas ações, e assim elas buscarão cada vez maiores desafios.

Enfim….uma criança que é educada para frustrações, para as escolhas, para o diálogo e a convivência, para a aprendizagem, desenvolverá sua autonomia moral e intelectual, e levará para a vida a capacidade de discernir por si própria, de acordo com suas convicções e ideias, e, como a frase do filósofo Emanuel Kant diz: “ousando fazer uso do seu próprio entendimento”.

Por fim…será uma criança educada para a felicidade.

Pois sabemos que a felicidade não significa a ausência de frustrações, conflitos e erros em nossa vida, mas a capacidade de lidar com eles.

Uma pessoa feliz não tem o melhor de tudo, mas consegue melhorar tudo com o que ela tem.

Esse post foi o tema dessa Live publicada no nosso canal no Youtube

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