Uma pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2017) mostrou que a maioria dos brasileiros apoia o autoritarismo para resolver problemas como a segurança pública, por exemplo. Essa notificação, além de perigosa pois pode apresentar retrocessos em vários âmbitos da sociedade, indica com tristeza que nossas escolas não tem cumprido o seu papel  de transformar crianças e jovens em cidadãos participativos e que buscam a democracia para a resolução dos problemas da sociedade.

Percebemos a instituição escolar, em sua maioria, ainda muito voltada para a transmissão dos conteúdos acadêmicos, esquecendo-se que, parte da sua função é a de formação para a convivência.

Muitos educadores na verdade não fazem ideia de como desenvolver a moralidade em seus alunos, e em como torna-los indivíduos moralmente autônomos.

De acordo com todos os estudiosos interacionistas, em especial Piaget, a moralidade infantil é construída através das relações entre os sujeitos, e as relações sociais onde eles estão inseridos. Muitas são as práticas morais que podem ser trabalhadas em sala de aula, como forma de auxiliar o desenvolvimento moral dos alunos.

Sabemos que o conflito é parte natural de nossas vidas, intrínseco à convivência humana. Dado esse motivo, é preciso  não ignorá-los, mas utilizá-los como uma forma de desenvolver a empatia, a solidariedade e a cooperação entre as crianças e adolescentes, de forma a perceberem que, das diferenças, podem surgir reflexões amistosas e ideias originais.

De forma a trabalhar a democracia na prática, visando formar cidadãs e cidadãos críticos, autônomos, conscientes de seu papel político social na construção de uma vida mais justa e feliz para cada um e todos os membros da sociedade em que vivem, a EMAK realiza, desde  2005, na sua ação  cotidiana, as Assembleias Escolares.

Baseada nos estudos de Josep Maria Puig e Ulisses Araújo, utilizamos as Assembleias Escolares como um caminho para  a resolução de conflitos, pois esses são a sua matéria prima. Tornamos as assembleias  um momento institucional de diálogo.

 No caso das assembleias de classe, são discutidas temáticas sobre o espaço específico da sala de aula. Seu objetivo é regular  e regulamentar a convivência e as relações interpessoais no âmbito de cada classe e, com encontros semanais ou quinzenais, servir de  espaço de diálogo na resolução dos desentendimentos cotidianos.

As assembleias de escola regulam e regulamentam as relações interpessoais e a convivência no âmbito dos espaços coletivos; relativos a horários (chegada, saída, recreio); espaços físicos  (limpeza, organização); alimentação; entre outros.  Nesse caso, reúnem-se os representantes dos diversos segmentos (ex.: dois representantes de classe, dois professores e dois funcionários da equipe administrativa) que são escolhidos periodicamente pelos membros da escola.

Também são realizadas as assembleias docentes e de pais, cuja responsabilidade é regular e regulamentar temáticas relacionadas como convívio entre docentes-direção, ou pais-equipe-diretiva, com o projeto político-pedagógico da instituição e com conteúdos que envolvam a vida funcional e administrativa da escola.

 A importância desses momentos pressupõe uma aprendizagem democrática: aprender a ouvir, a controlar os impulsos autoritários, a deixar o outro falar, sabe contra argumentar  e confiar no poder do grupo como agente de regulação coletiva.

 Os integrantes das assembleias trazem a pauta através das críticas  levantadas. Para essa construção é preciso que alguns aspectos sejam observados: a crítica deve ser anônima; a escrita e conteúdo devem ser respeitosos; não se deve citar nomes, uma vez que a crítica é sobre a ação. Também são trazidos para a pauta felicitações e agradecimentos. 

Este trabalho é realizado com alunos de Fundamental, do 1º ao 9º ano, abrangendo crianças de 06 a 15 anos, além dos professores e pais de alunos. 

Com as assembleias  conseguimos manter comportamentos socialmente inadequados em níveis democraticamente aceitáveis, discutindo princípios e atitudes impróprios ou inconvenientes ao ambiente público, e, a partir daí construindo regras de regulação coletivas ou propostas de resolução de problemas. Percebemos que dessa maneira educa-se para a vida em sociedade de forma dialógica, solidária  e empática.

Viviane Baeza

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