“O mundo pós-pandemia mudou”. Todos nós já ouvimos essa frase. De fato, as pessoas mudaram sua compreensão de mundo, a tecnologia se tornou algo potente diante das relações e a comunicação se transformou em algo possível, mesmo com distancias. Nos conectamos às novas tendências, nos relacionamos de novas formas, não é mais necessário estar perto para estarmos juntos. E a escola também foi impactada por toda essa nova situação.
Mas antes de pensarmos sobre essas mudanças por um viés positivo, temos que refletir sobre os aspectos negativos da pandemia nas escolas e nas suas relações com família e sociedade. Como está hoje a nossa relação com o conhecimento, com as escolas de nossos filhos, com os professores que lá trabalham e a relação de nossos filhos com um dos ambientes mais importantes para desenvolvimento deles.
Estudos mostram que o isolamento social e as escolas fechadas por tão longo tempo no Brasil causaram muitos problemas à saúde mental dos estudantes e apontam que dois em cada três alunos apresentam depressão ou ansiedade diante das questões escolares. Sintomas como insegurança, ansiedade e angústia, diante das situações da rotina escolar e das aprendizagens, que ficaram atribuladas devido ao formato online, que não funcionou da mesma forma para todas as crianças, tem sido uma constante na vida dos alunos. Nessa volta ao modelo presencial podemos observar situações que tem atrapalhado o desempenho dos estudantes, como dificuldades organizacionais, de relacionamento entre os pares e na convivência, redução da atenção e concentração e regressão na independência e autonomia diante dos materiais e atividades pedagógicas, transformando o ambiente escolar um espaço de estresse.
Não só os alunos foram impactados, mas também os educadores (vou tratar aqui por educadores, pois não se trata apenas do professor de sala de aula, mas de todos os envolvidos na rotina escolar: diretores, coordenadores, auxiliares,…). São eles que encontram uma situação complexa: como lidar com as questões das questões emocionais dos estudantes, das novas modalidades didáticas e das dificuldades pedagógicas que este tempo causou? Quando falamos de dificuldades pedagógicas, podemos citar algumas: atrasos no desenvolvimento da leitura e escrita e em raciocínios matemáticos, dificuldades motoras causadas pela pouca mobilidade no isolamento social, entre tantas outras. Além deles mesmos também terem que lidar com suas próprias questões de saúde mental diante da pressão para aprenderem rapidamente novas modalidades didáticas e as demandas dessa nova condição educacional.
Não podemos deixar de citar os pais, que nos últimos anos foram peça importante no auxílio e apoio de tantos estudantes no modelo online, às vezes fazendo o papel de professor particular auxiliando na compreensão dos conteúdos enviados para casa ou no suporte aos materiais solicitados para atividades, acompanhando de perto a vida escolar de seus filhos. E essa situação que poderia ser vista como positiva, em alguns casos causaram impactos negativos para o desenvolvimento da autonomia, habilidade importante para a progressão das aprendizagens. Hoje temos visto a dificuldade de alguns pais em deixar com que seus filhos voltem a caminhar sozinhos em suas atividades acadêmicas. Ou mesmo tem questionado os processos escolares, solicitado que crianças não usem banheiros das escolas ou sentem em roda com seus amiguinhos na sala de aula, demonstrando medos que antes não faziam parte do imaginário dos responsáveis e agora passam a fazer, uma vez que a pandemia fez mal a tanta gente.
Por fim, o mundo pós-pandemia ainda está em mudança. Algumas coisas vieram para ficar e devem ser aproveitadas, porém há outras que devemos deixar de lado para seguir adiante de forma mais saudável possível. Devemos lembrar que independentemente do tempo que levaremos para nos organizarmos novamente nessas relações, é necessário um olhar acolhedor e paciente para com todos os envolvidos nos processos educativos, sejam pais, alunos ou educadores.
Compreendendo que estamos todos nos reorganizando diante das situações vividas, retomando nossas rotinas escolares, reestruturando os processos acadêmicos e que neste caminho há que se ter tranquilidade e leveza. A escola deve se preparar para perceber situações de saúde mental em que seja necessário apoio, educadores devem ficar cientes que não será de um momento para outro que as questões acadêmicas serão resolvidas e que é necessário relevar e os pais tentarem manter a calma entendendo que é uma situação passageira e que logo tudo se reorganizará.
Afinal, precisamos sempre ter em mente que, para que processo de aprendizagem aconteça da melhor maneira, todos os envolvidos devem estar em sintonia fazendo cada um a sua parte de forma integrada. Nós vencemos a pandemia e venceremos mais este desafio.