Até há pouco tempo, o estudo da adolescência centrava-se somente sobre o adolescente e suas pressões internas psicológicas, cognitivas e hormonais. Mas, segundo Arminda Aberastury, psicanalista argentina que escreveu várias obras sobre o assunto, esse enfoque será sempre incompleto se não se levar em conta a outra face do problema : a ambivalência e a resistência dos pais e da sociedade em aceitar o processo de crescimento .

Assim sobre pressões externas e internas, sofre um adolescente que mostra-se subitamente provocador e onipotente, como forma de negar a sua dor . Às vezes flutua entre querer ser adulto de imediato ou não querer crescer nunca.

Essas flutuações, para os pais, às vezes são conflitivas, o que os fazem empurrar ou deter, reprimindo com brutalidade, os progressos. Isso se dramatiza na vida diária do adolescente, que, por um lado, deve submeter-se a uma disciplina, escolar ou doméstica, e, por outro, necessita de liberdade para participar ativamente na vida dos adultos.

Muitas vezes sua hostilidade aos pais e ao mundo em geral é gerada na idéia de não ser compreendido e no seu desprezo da realidade. É um lento desenvolvimento onde se alterna a confirmação e a negação de seus princípios e onde se debate entre sua necessidade de independência e sua carência afetiva de dependência. Sofre crises de extrema fragilidade às criticas, exige e necessita vigilância como forma de dependência, interpretando a falta de limites imposta pelos pais como abandono. Ao mesmo tempo seu humor passa sem transição do desprezo do contato com os pais à necessidade de apoio e dependência.

Para os pais, o crescimento do filho traz a difícil realidade do envelhecimento e da morte, devendo abandonar a imagem de si mesmo que o filho criou e na qual se instalou. Já não servirá como líder ou ídolo e deverá aceitar uma relação cheia de ambivalências e de críticas. Os progressos do filho obrigam a avaliar seus progressos e fracassos. Este balanço tem por testemunha, questionadora e implacável, o próprio filho.

Quando as modificações corporais definem o papel procriador do jovem, inicia-se o verdadeiro drama edípico. Essas modificações corporais, são aceitas com muito transtorno e, às vezes, é uma elaboração que se faz ao longo da vida. Todo esse processo leva o adolescente a adquirir uma identidade adulta que se traduz como uma ideologia com a qual enfrenta o mundo circundante.

O início da adolescência, entre 10 ou 12 anos, muitas vezes é marcado por diferenças de comportamento que, para os pais, são muito assustadoras. Na escola, o aluno que até então apresentou um comportamento e um rendimento impecáveis, começa a apresentar uma queda no rendimento e algumas transgressões às regras até então literalmente impensadas. Isto se deve não só ao seu processo de desenvolvimento afetivo, que tentamos descrever até agora, mas ao seu desenvolvimento intelectual que, segundo Piaget, passa a possibilitar ver o mundo com outra estrutura de pensamento muito mais potente.

O pequeno mundo infantil torna-se um mundo de possibilidades infinitas para alguém que, em virtude dessa nova potência de raciocínio, encontra-se em pleno estágio de onipotência. É nessa fase do: “isso nunca vai acontecer comigo”, que ele corre mais riscos com a liberdade excessiva. A busca desesperada de identidade o faz necessitar de um grupo de “iguais”. Seu referencial de si mesmo passa a ser o do grupo. Vestir-se igual ao grupo, falar as gírias em moda no grupo, seguir o grupo.

Um mundo interno conturbado distrai esse jovem do exclusivo papel de aluno exercido até então na escola. Os mestres até então adorados passam a ser questionados nas suas falhas humanas, agora vistas com crueza.
As ocorrências disciplinares, antes quase inexistentes, aparecem com mais freqüência, algumas vezes por simples oposição, outras por impossibilidade diante do reflexo de sua desorganização interna.

Os pais chegam a pensar em Escola Militar como saída diante da própria impotência como educadores e como uma forma de negar esse período do crescimento do filho. Mas essa possível eficácia é enganosa pois, segundo Aberastury a violência dos estudantes não é mais que a resposta à violência da ordem familiar e social.

Vigiar sim, negar impossível. A técnica educativa necessária nessa fase é o diálogo que respeita o ser humano inteligente e pensante, que às vezes se atrapalha nos questionamentos agressivos, provocações nas quais o adulto não deve misturar suas dificuldades pessoais.

O dialogo dos pais com o jovem não deve iniciar-se nesse período, idealmente deve ser algo que venha acontecendo desde o nascimento. Se não é assim o adolescente terá muita dificuldade em se aproximar do adulto.

Quando o clima de diálogo familiar existe, é menos provável que se submeta a falsos líderes ou guias autoritários, numa substituição aos pais aos quais está querendo separar-se.

Maria Helena Bitelli Baeza Sezaretto
Psicóloga / Pedagoga
Psicopedagoga
Especialista em Gestão de Qualidade
Pós graduanda em A Moderna Educação (2021/22)

Texto publicado no antigo Blog da Maria Helena: Processos Educativos na Escola e na Família

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