A teoria de Jean Piaget é uma grande defesa de ideal democrático. Para este famoso pesquisador do conhecimento, a democracia é condição necessária ao desenvolvimento da personalidade. O “ser social” de mais alto nível é justamente
aquele que consegue relacionar-se com seus semelhantes existindo reciprocidade de pensamento e sendo os interlocutores capazes de entender o ponto de vista um do outro.
É a necessidade de demonstrar através do confronto com outras ideias que torna o indivíduo consciente dos “porquês” de outras visões. Nesse sentido, a linguagem cumpre uma função muito importante que é de organizar o
pensamento, facilitando o próprio pensamento e organizando as ações do indivíduo.
Deduzir e demonstrar passa a existir no contato com a ideia contrária comunicada de preferência pelo colega (já que com o adulto, às vezes, resta muito pouco a discutir e a relação é de coação).
Na coação, um impõe ao outro suas formas de pensar, seus critérios, suas verdades. Não existe necessidade da reciprocidade.
Como ela não pede que o indivíduo exercite o colocar-se no lugar do outro, a coação é contraditória com o desenvolvimento intelectual a ela submetida.
Assim, conceitos ou valores são impostos pelo mais forte e não construídos a partir de trocas anteriores.
Na cooperação, entre pares da mesma idade e que promove a situação onde os indivíduos exercitam a reciprocidade e onde o desenvolvimento intelectual e moral pode ocorrer, pois ela exige que os sujeitos se descentrem para poder
compreender o ponto de vista alheio.
Da cooperação deriva o respeito mútuo e a noção do bem. A cooperação pode ocorrer com os pais, mas é o bom senso dos pais e educadores que dirá até onde vai o limite do exercício da democracia e o limite coercitivo que vai mostrar o que é inegociável e exige uma posição firme do adulto. Firmeza quase sempre necessária para a segurança emocional da criança e do adolescente.
Para Piaget, o método coercitivo é inevitável e necessário no início da educação moral, mas se permanecer exclusivo vai encurralar a criança na heteronomia, o contrário da autonomia moral.
Para pais e educadores, fica a conclusão, de que é preciso proporcionar situações onde a criança exercite a lógica de demonstrar seu pensamento.

O DESENVOLVIMENTO DA NOÇÃO DE REGRAS

É na construção deste conceito que a escola pode dar sua efetiva contribuição no desenvolvimento da personalidade democrática do estudante.
Nestas relações criança-criança, não há uma única autoridade a quem obedecer, a obediência passa a ser substituída pela reciprocidade nas trocas entre iguais.
A necessidade de respeitar equilibra-se a necessidade de ser respeitado (respeito mútuo). É após o exercício dessas práticas, dessas trocas, que aconsciência das regras torna-se autônoma. Piaget aponta dois fatores para o desenvolvimento desta autonomia:

1- participar da elaboração das regras, assim a criança entende o significado destas a razão de sua utilidade; e ao serem elaboradas pelo grupo e existindo para manter a convivência deste, as regras passam a ser controladas pelo
próprio grupo e assim…


“… a regra é respeitada não mais enquanto produto de uma vontade exterior, mas como resultado de um acordo explícito ou tácito… A regra obriga na medida em que o próprio eu está comprometido, de modo autônomo com o acordo feito”.

Piaget


“Se as relações de coação forem, gradualmente, dando lugar a outras relações sociais que no seu bojo permitam a construção de regras pelos elementos desta relação, em igualdade de condições – a cooperação e a reciprocidade – a consciência da criança passará a ver estas mesmas regras como mutáveis, pois feitas pelo grupo, racionais, pois pensadas para o grupo e legítimas pois assumidas por consenso entre eles. É claro que a cooperação é a que aponta para a formação do sujeito democrático”.

Maria L. Menin


Essa é a fundamentação teórica com a qual a EMAK embasa sua prática de votação nas regras (negociáveis).
Só assim o aluno pode entender conscientemente a necessidade e a obediência às regras.

Maria Helena Bitelli Baeza Sezaretto
Psicóloga / Pedagoga
Psicopedagoga
Especialista em Gestão de Qualidade
Pós graduanda em A Moderna Educação (2021/22)

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